domingo, 23 de agosto de 2015

Ermida na Ribeira de Palheiros, em 1611

Ermida na Ribeira de Palheiros em 1611

Frei Henrique Perdigão no seu livro “Subsídios para a História da Ribeira de Palheiros” descreve a origem da devoção à Senhora da Piedade, Padroeira daquele lugar, escrevendo:
É de crer, e a tradição para isso aponta, que essa devoção remonta já aos primitivos moradores que aí se radicaram nos começos do século XVI”.
E mais à frente diz-nos que:
“A primeira Capela tinha uma porta e uma janela. Foi demolida n ano de 1780 para no seu lugar ser construída outra mais ampla e do mesmo estilo com 14 metros de comprimentos por 4 de largo”.

Julgamos que a supra referida primeira Capela terá sido uma Ermida particular, sacramentada, ou benzida em 19 de Setembro de 1611, são duas as razões que nos levam a concluir esta hipótese:
1ª – Eram então poucos os habitantes na Ribeira, há por vezes registos paroquiais a referirem Quinta da Ribeira de Palheiros, mas vão desaparecendo, ficando somente Ribeira de Palheiros, se fosse a Quinta a prevalecer a ermida poderia ter sido integrada nessa Quinta, mas não é o caso.
2ª – A data “em que Sacramentaram” a Ermida foi a 19 de Setembro, ora o dia de N. Srª da Piedade é habitualmente considerado no mesmo dia de N. Srª das Dores, a 15 de Setembro, é pois muito provável que a Ermida fosse de N. Srª da Piedade.
É um registo de óbito que nos dá esta informação, na pagina 73 do primeiro livro Misto de S. Lourenço dos Francos, cuja cópia é a seguinte:


Lendo o registo:
“Francisco Fernandes, o manquo da Ribeira, faleceu aos 26 dias de Setembro, esta enterrado a porta do Sol. Ele foi o primeiro, e sua mulher, que sacramentaram da sua Ermida per que a primeira  missa que se nela disse foi segunda feira dezanove do dicto mes da era de seiscentos e onze. Pobre fez o enterro Catarina”.

Naquela data só temos um Francisco Fernandes a morar na Ribeira, terá nascido em Quatro Sobreiros, filho de Diogo Fernandes, o Rijo, e de Violante Lopes, casou em S. Lourenço dos Francos a 6 de Novembro de 1585 com Maria Fernandes, filha de Fernão de Anes, de Papagouva.
Conhecem-se 3 filhos, 2 raparigas e um rapaz, nascidos entre 1587 e 1610, mas não se conhece descendência, talvez devido à ausência de livros de registos entre 1614 e 1637.
Tivemos alguma dificuldade em encontrar uma explicação para o que está escrito no final do óbito do Francisco Fernandes, “pobre”, numa opinião que pedimos a um académico conhecedor destas matérias, o Dr. Carlos Guardado, ele sugere-nos que a palavra “pobre” servia para justificar a ausência de testamento.
Quatro Sobreiros era o nome do lugar atribuído em S. Lourenço dos Francos da mesma área geográfica de Casais dos Rijos, esta dúvida é esclarecida com um meio irmão do supra referido Francisco Fernandes, o Lopo Gil, que baptizou 3 filhos em S. Lourenço dos Francos, sempre como morador em Quatro Sobreiros, termo de Torres Vedras, entre 1600 e 1613, ele foi enterrado em S. Lourenço dos Francos, mas o seu registo de óbito está em Santa Maria do Castelo, de Torres Vedras, assim descrito:
“Aos 9 dias do mês de Maio de 1621 faleceu Lopo Gil, morador nos Casais dos Rijos e freguez desta Igreja de Santa Maria do Castelo, está enterrado na Igreja de S. Lourenço junto a Lourinhã; e não fez testamento. e por ser verdade fiz e assinei este”.
Julgamos que a possível mudança de nome de Quatro Sobreiros para Casais dos Rijos se deverá ao pai do Francisco Fernandes, Diogo Fernandes, com a “alcunha” o Rijo, que viveu naquele lugar, sendo pai de 6 filhos, 5 dos quais com Violante Lopes. E Lopo, filho de uma sua escrava, Catarina.