sábado, 9 de março de 2013

A União das Freguesias de Campelos e Outeiro da Cabeça, é uma realidade desde o dia 29 de Janeiro,  aprovada pela Lei nº 11-A/2013, que publicou a Reorganização administrativa do território das freguesias, o território da freguesia de Miragaia volta a ter a anterior área, com a União das freguesias de Miragaia e Marteleira, fica aqui o texto da Lei, no geral, e em pormenor o que diz respeito ao Concelho de Torres Vedras:






quinta-feira, 7 de março de 2013

Manifestações Populares, durante a Quaresma, em Campelos, Torres Vedras

Hoje, na noite do dia 6 de Março, realizou-se mais uma Serração das Velhas. Foram 17 os novos avós deste ano.


Eram duas as manifestações populares que se viviam em Campelos, no decorrer da Quaresma:
Ø  Comadres e Compadres
Ø  Serração das Velhas

1 - Comadres e Compadres
Tradição antiga em que no início da Quaresma um rapaz abordava uma rapariga para ser sua comadre, por vezes já com o intuito de a partir dai iniciar namoro com esta, entre os dois havia um “contrato”:
                “Contratar, contratar, mandar rezar 3 vezes ao dia, Pai Nosso, Avé Maria”.
Com o acordo aceite passava a haver uma disputa entre eles, durante a quaresma ambos tentavam conseguir ser o primeiro a ver o outro e dizer “reza”.
No fim da Quaresma, na Quinta Feira Santa o rapaz dava à rapariga amêndoas, e esta dava ao rapaz um folar com ovo.
Nos últimos anos faziam-se listas de Comadres e Compadres, por sorteio com os nomes dos jovens solteiros, em idade de namorar. A listagem era realizada, por um grupo de jovens, no início da Quaresma e afixada em local público onde ao Compadre (rapaz) correspondia uma Comadre (rapariga), e modo de actuar era similar.
Alguns casamentos tiveram origem nestes “contratos”
Esta tradição caiu em desuso, e já não se realiza há uns 25/30 anos.


2 - A Serração das Velhas
A Serração da Velha, ou Serração das Velhas é uma manifestação popular muito antiga neste lugar, ocorre na noite da 3ª Quarta Feira da Quaresma, percorrendo a localidade, indo  à porta da família que foi avó pela primeira vez, desde a serração do ano anterior.

Em Campelos esta tradição parou durante alguns anos, mas foi retomada, há cerca de 20 anos, pelos dirigentes da ASOCA – Associação de Solidariedades Social e de Socorros de Campelos, em colaboração com outras pessoas da comunidade, que ano a ano fazem o levantamento dos nascimentos que vão ocorrendo e anotando quem é avô pela primeira vez.

À porta dos novos avós, que recentemente entraram no rol dos velhos, cantam em choradeira, fazem o testamento, distribuindo os bens da família, tudo em grande algazarra, com sons imitando o serrote a cortar madeira e outras sonoridades ruidosas, de modo a acordar os da casa, que teoricamente não sabem desta visita surpresa, e na verdade são poucos os que sabem previamente, pois tudo é combinado em sigilo.
Mas há sempre alguém que sabe, ficando reservado para o final da ronda, que termina tarde, e este último a ser visitado prepara uma mesa com comes e bebes, para reconfortar o esforço da cantoria, e da caminhada.

Versos do testamento da velha



Refrão:
Oh minha avozinha
Vou começar a partilhar
Oh minha avozinha
Não tenho mais que lhe deixar

Fica as casas para o ….(filho ou filha)
Para um dia herdar
E a fazenda tal….
Para a filha …para herdar

Refrão

Oh minha avozinha
Não tenho mais que deixar
Fica a adega para os velhos
Para a pinga nos dar

Refrão
Oh minha avozinha
Não tenho nada com isso
Mais uma velha
Que vai para o cortiço

Refrão e serrança

A origem da Serração da Velha é incerta, ancestral, e, possivelmente de origem pagã. Não é exclusivamente portuguesa, ocorrem manifestações semelhantes, noutros países europeus e também no Brasil.
Autores há que defendem ter surgido em meados da Idade Média, ideia não de todo despropositada dado a Igreja Católica ter instituído, entre os séculos IV e VI, a Quaresma como período de abstinência, jejum, mortificação, em que os cristãos se deveriam penitenciar pelas faltas cometidas ao longo do ano.

Teófilo Braga, no seu livro O Povo Portuguez nos seus Costumes, Crenças e Tradições - volume II, de 1885, escreve:
     (…)Â Quaresma é representada como uma entidade, logo que se chega a metade d'este período de sete semanas, faz-se a Serração da Velha. Entre os Árabes, os sete dias de solsticio do inverno são chamados os dias da Velha ; Gil Vicente, no Triumpho do Inveno representou o inverno como a Velha, perseguida pelo Maio moço ou o verão (…)As cerimonias populares da Serração da Velha variam segundo as localidades; porém sempre na noite da quarta feira da terceira semana da quaresma: Celebra-se à luz de archotes, com musica e algazarras, fingindo-se serrar através do corpo uma velha metida n'um cortiço, e chamada Maria Quaresma. O testamento da velha, enfiada de pulhas em verso de pé quebrado, tem sido por muitas vezes feito e impresso (…)

Ernesto Veiga de Oliveira, no livro “Festividades Cíclicas em Portugal”, diz  que na Zona Sul do ocidente Europeu, na Itália, França, Espanha e Portugal existe um costume que se realiza a meio da Quaresma, conhecido pelo nome de “Serra da Velha”, tradição que já vem de há muito tempo, sendo uma das mais antigas. Durante a noite juntam-se os rapazes em grupos e, por volta da meia-noite, começa a grande algazarra. Isto é realizado numa quarta-feira da Quaresma e serram-se aquelas mulheres de idade relativamente avançadas e solteiras, e atribuem-se-lhes os respectivos dotes. A tradição consiste, assim, em percorrer a aldeia em cortejo, parando à porta das “velhas a serrar”. Chegando aí cantam em tom fúnebre, através de um embude, espécie de funil em tamanho grande e dizem algumas palavras ajustadas à situação.
Em algumas regiões do País, a velha é substituída por uma boneca, que é carregada para o local onde vai ser serrada. (José Manuel Couto, Publicado no Jornal Audiência em 24 de Março 2009)

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