Há 100 anos atrás a localidade de Campelos, (então pertencente
à freguesia de Santa Maria do Castelo, cuja sede estava a 18 km de distância,
na Vila de Torres Vedras), vivia ainda mais preocupada, sabia desde Março de
1916 da entrada de Portugal na Primeira Guerra, mas agora chegava a notícia de
que alguns dos seus filhos iriam participar no conflito.
Foram publicados Editais, que normalmente eram afixados em
todas as terras, e sabe-se que o jornal A Vinha de Torres Vedras publicava a 24 de
Agosto de 1916 um edital da Junta de Inspecção de Revisão no qual (…) se deve
proceder (…) à inspeção revisão de todos os indivíduos que, achando-se ao abrigo
da lei de 2 de Março de 1911, foram, para esse fim, relacionados pelo
secretário da comissão de recenseamento militar deste concelho. Na edição
seguinte, o mencionado periódico torriense informava que (…) a partir do primeiro
mez de setembro, todos os cidadãos dos 20 aos 40 anos, devem andar munidos de
documento que prove terem cumprido ou terem sido isentos do serviço militar.
Sabe-se pela mesmo jornal que haviam sido
inspecionados na faixa dos 20 aos 25 anos, 765 indivíduos, sendo que 410 foram
apurados para serviço militar, 165 ficaram isentos definitivamente e 191
isentos incondicionalmente. [i]
O clima de guerra já se fazia sentir na área há algum tempo
com os exercícios militares a decorrerem nas proximidades, em Paio Correia,
Vimeiro e Bogalheira, conforme descrição
publicada em jornais, de uma visita aos locais, de membros do Quartel General, em
finais de Outubro de 1916. [ii]
Foram dois os jovens Campelenses que foram para a Guerra,
Francisco Antunes, e Laureano dos Santos.
Francisco Antunes nasceu em Campelos a 3/1/1890, 10º filho
de António Antunes e de Gertrudes Emília, ambos de Campelos, com excepção do avô
que era do Sarge, os outros eram todos de Campelos, ou localidades próximas.
Francisco Antunes embarcou para França a 8 de Agosto de 1917[iii],
já casado desde 2/12/1914 com Gertrudes Delfina, natural do Casal do Vale
Pereiro, Campelos, (2ª filha de José Amaro e de Delfina de Jesus, ambos de
Campelos), e já com a sua primeira filha, a Maria Gertrudes Antunes, baptizada
a 5 de Março de 1916.
Foi como Soldado Condutor, nº 635, no Regimento de Artilharia
nº1/5º G.B.M./7ª Bateria/ 2ª Bateria. Regressou a 13 de Setembro de 1918[iv].
Faleceu em Campelos a 16/11/1968, deixando 7 filhos.
Laureano dos Santos, nasceu no Casal do Carregado (junto a
Campelos) a 7 de Junho de 1893, 1º filho de Zeferino dos Santos, Exposto da
Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, (que veio com dois dias de idade para o
Casal do Carregado, onde foi criado, pela ama Luísa Maria) e de Adelaide de
Jesus, natural de Campelos.
Laureano dos Santos embarcou para França a 21 de Agosto de
1917, solteiro, como soldado nº 251 da 2ª Companhia, C.A.P./1º Grupo/1º B.A.C.
Regressou a 16 de Fevereiro de 1919.[v]
Laureano dos Santos casou a 26 de Dezembro de 1921 com
Florinda da Conceição, de 29 anos, natural de Papagovas, Lourinhã, filha de
José da Silva Carruço e de Maria da Conceição, viveram em Campelos, onde foram
pais de 6 filhos. Faleceu na freguesia da Moita dos Ferreiros, Lourinhã, a
8/9/1966.
Uma vez que hoje Campelos está em União com a freguesia de
Outeiro da Cabeça, sabemos pela mesma fonte que Manuel Baptista, solteiro, de
Outeiro da Cabeça, filho de João Baptista e de Maria Luiza, embarcou para França
a 19 de Agosto de 1917, como soldado nº 814, nos Sapadores Mineiros/2ª
Companhia/R.S.M./2ª Companhia, e regressou a 31 de Março de 1919[vi].
[i] Ramos, Helder, “A participação torrienses na
Grande Guerra: Identificação e percursos de vida”, in OS
Portugueses na Grande Guerra/História e Memória. Turres Veteras XIX, 2017,
p. 135.
[ii] Matos,
Venerando Aspra de, “Ecos da Grande Guerra em Torres Vedras”, in OS Portugueses na Grande Guerra/História
e Memória. Turres Veteras XIX, 2017, pp. 124-125.
[iii] Ramos,
Helder, op. Cit., p. 162
[iv] Idem
[v] Idem, ibidem, p. 156,
[vi] Idem, ibidem, p. 162.