Ermida
na Ribeira de Palheiros em 1611
Frei
Henrique Perdigão no seu livro “Subsídios para a História da Ribeira de
Palheiros” descreve a origem da devoção à Senhora da Piedade, Padroeira daquele
lugar, escrevendo:
“É
de crer, e a tradição para isso aponta, que essa devoção remonta já aos
primitivos moradores que aí se radicaram nos começos do século XVI”.
E
mais à frente diz-nos que:
“A
primeira Capela tinha uma porta e uma janela. Foi demolida n ano de 1780 para
no seu lugar ser construída outra mais ampla e do mesmo estilo com 14 metros de
comprimentos por 4 de largo”.
Julgamos
que a supra referida primeira Capela terá sido uma Ermida particular,
sacramentada, ou benzida em 19 de Setembro de 1611, são duas as razões que nos
levam a concluir esta hipótese:
1ª
– Eram então poucos os habitantes na Ribeira, há por vezes registos paroquiais
a referirem Quinta da Ribeira de Palheiros, mas vão desaparecendo, ficando
somente Ribeira de Palheiros, se fosse a Quinta a prevalecer a ermida poderia
ter sido integrada nessa Quinta, mas não é o caso.
2ª
– A data “em que Sacramentaram” a Ermida foi a 19 de Setembro, ora o dia de N.
Srª da Piedade é habitualmente considerado no mesmo dia de N. Srª das Dores, a
15 de Setembro, é pois muito provável que a Ermida fosse de N. Srª da Piedade.
É
um registo de óbito que nos dá esta informação, na pagina 73 do primeiro livro
Misto de S. Lourenço dos Francos, cuja cópia é a seguinte:
Lendo
o registo:
“Francisco Fernandes, o manquo da
Ribeira, faleceu aos 26 dias de Setembro, esta enterrado a porta do Sol. Ele
foi o primeiro, e sua mulher, que sacramentaram da sua Ermida per que a
primeira missa que se nela disse foi
segunda feira dezanove do dicto mes da era de seiscentos e onze. Pobre fez o
enterro Catarina”.
Naquela
data só temos um Francisco Fernandes a morar na Ribeira, terá nascido em Quatro
Sobreiros, filho de Diogo Fernandes, o Rijo, e de Violante Lopes, casou em S.
Lourenço dos Francos a 6 de Novembro de 1585 com Maria Fernandes, filha de
Fernão de Anes, de Papagouva.
Conhecem-se
3 filhos, 2 raparigas e um rapaz, nascidos entre 1587 e 1610, mas não se
conhece descendência, talvez devido à ausência de livros de registos entre 1614
e 1637.
Tivemos
alguma dificuldade em encontrar uma explicação para o que está escrito no final
do óbito do Francisco Fernandes, “pobre”,
numa opinião que pedimos a um académico conhecedor destas matérias, o Dr.
Carlos Guardado, ele sugere-nos que a palavra “pobre” servia para justificar a ausência de testamento.
Quatro
Sobreiros era o nome do lugar atribuído em S. Lourenço dos Francos da mesma
área geográfica de Casais dos Rijos, esta dúvida é esclarecida com um meio
irmão do supra referido Francisco Fernandes, o Lopo Gil, que baptizou 3 filhos
em S. Lourenço dos Francos, sempre como morador em Quatro Sobreiros, termo de
Torres Vedras, entre 1600 e 1613, ele foi enterrado em S. Lourenço dos Francos,
mas o seu registo de óbito está em Santa Maria do Castelo, de Torres Vedras,
assim descrito:
“Aos
9 dias do mês de Maio de 1621 faleceu Lopo Gil, morador nos Casais dos Rijos e
freguez desta Igreja de Santa Maria do Castelo, está enterrado na Igreja de S.
Lourenço junto a Lourinhã; e não fez testamento. e por ser verdade fiz e assinei
este”.
Julgamos
que a possível mudança de nome de Quatro Sobreiros para Casais dos Rijos se
deverá ao pai do Francisco Fernandes, Diogo Fernandes, com a “alcunha” o Rijo,
que viveu naquele lugar, sendo pai de 6 filhos, 5 dos quais com Violante Lopes.
E Lopo, filho de uma sua escrava, Catarina.
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