quinta-feira, 17 de abril de 2025
Gaspar Campello, longa vida e vários cargos
Como a Escola Gaspar Campello realizou a 10 de abril a Feira Quinhentista, evocando o seu Patrono, aprofundei um pouco mais a investigação sobre o Gaspar Campello,deixo aqui a infromação disponibilizada à escola.
Resumo Cronológico
1536 – Bacharel em leis, pela Universidade de Salamanca;
1539 – Juiz de Fora de Monção;
1543 - Juiz de Fora de Viseu;
1551 – Nomeado pelo Rei para venda de Foros no Algarve;
1567 - Juiz de Fora de Castelo Branco;
1572 – Juiz de Fora de Torres Vedras;
1574 – Juiz de Fora de Leiria;
1578 a 1588 - Juiz do Cível, e do Crime, em Lisboa;
1578 – Participa, em Lisboa, nas cerimónias fúnebres do Rei D. Sebastião;
1585 – Mordomo da Confraria de S. António, em Lisboa;
1587 – Solicita autorização para dizer missa na sua Ermida, na sua quinta,
no termo de Torres Vedras, mais tarde, quinta do Campello;
1589 – É ele que compra os mantimentos para as tropas que acompanham
D. António Prior do Crato, na sua última tentativa de ser Rei de Portugal;
1606 - Último registo como padrinho/testemunha, em S. Lourenço dos
Francos, havendo vários registos nesta qualidade, bem como da esposa.
1607 – O seu filho, António Campello, professa, em Lisboa, como
religioso na Ordem de S. Agostinho;
1610 – Gaspar da Cunha, neto de Gaspar Campello, é sepultado na
Igreja de S. Lourenço dos Francos.
Assinatura de Gaspar Campello, no livro de Acórdãos da Câmara de Torres Vedras, 1573:
1. Gaspar Campello na memória coletiva de Campelos:
Foi a memória coletiva dos habitantes de Campelos que despoletou o interesse em pesquisar informações ou fontes, que pudessem confirmar o que foi sendo transmitido, por várias gerações, que, sabemos hoje, já tinham ocorrido há quase 450 anos.
Essa memória atribui a Gaspar Campello o topónimo Campelos, e as investigações realizadas confirmam essa relação.
Da recolha de testemunhos orais realizada pelos escuteiros, em meados da década de 80 do século XX, ficou um bom resumo dos testemunhos recolhidos
«(…) Gaspar Campello, diz a lenda que fundou Campelos, dizem uns que andava sempre fugido porque roubou o cunho do Rei de fazer moedas e que vivia com a esposa, Jacinta da Cunha no Stº António, onde existia uma capela, que só teve um filho que foi frade, daí isto ter ficado ao abandono. Dizem outros que o Campello vivia ali perto do “lugar de baixo”, e que no “Stº António” vivia o António da Cunha com a mulher Jacinta da Cunha, e estes é que tinham roubado o cunho do Rei. Alguns ainda se recordam de vestígios de edificações no Stº António, outros que foram buscar pedras para alicerces da sua casa, há ainda pelo meio um cálice de ouro entregue ou oferecido à Igreja de S. Lourenço dos Francos, uns túneis, e outros rendilhados. (…)»
Só em 1985, na recolha e preparação de uma exposição sobre o 40º aniversário da freguesia de Campelos, começam a surgir alguns dados que indiciam a possibilidade de partes da memória oral sobre o Gaspar Campello poderem ser confirmadas documentalmente, o primeiro documento encontrou-se na leitura do livro do historiador torriense Madeira Torres, ao lermos que em «31 de janeiro de 1573 servia em Torres Vedras, como juiz de Fora, Gaspar Campello».
Julgando ser um nome pouco vulgar somos levados a pensar na possível veracidade da memória das pessoas de Campelos, e na necessidade de ir em busca de mais informação documental, partindo assim da memória, para chegar à história.
Memória e história têm algo em comum, ambas falam do passado, mas fazem-no de modo diferente, a primeira não tem regras, vai-se transformando e perdendo, a segunda tem métodos, e deve sempre questionar as suas fontes.
Há ainda uma outra razão para manter viva a memória, os indícios da existência de ruínas no início do século XIX, e talvez até à remição do foro da Quinta do Campello, em 1851.
2. A ligação de Gaspar Campello à localidade de Campelos:
O primeiro e principal documento que liga o Gaspar Campello à hipótese de ter fundado Campelos, (que ainda no inicio do Sec. XX tinha como topónimo Campello), está no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Colegiada de Santa Maria, este documento já é uma transcrição do inicio do Séc. XIX, (a data de inicio do maço é de 1806), de um documento original datado de julho de 1587, e que resume como uma “obrigação do Dr. Gaspar Campello para com a Ermida de Nossa Senhora da Paz, para cuja Fabrica dão 3000 reis, impostos na sua Quinta chamada do Campello”
Pela sua importância na transição da memória para a história, transcreve-se na integra o documento, deixando a grafia de então
«17 de Julho de 1587 = Nº = 54 = He obrigação do Dr. Gaspar Campello = Diz que em Lisboa, nas cazas do Dr. Gaspar Campello estando ele ahi presente, e Jacinta da Cunha sua mulher, por eles foi ditto ser verdade que tem huma Quinta no Termo desta Villa aonde Xamão o Vale de Sacarias, em que elles tem huma Ermida, com invocação de Nossa Senhora da Paz, que eles fizerão e agora pedem ao Sr. Arcebispo lhe desse licensa para nella se dizer a Missa. Sendo despaxado que obrigasem huma Propriedade que rendeu 3000 reis cada anno para a fábrica della; disserão que por este instromento, e protecão, e obrigão e aos dittos 3000 reis de renda cada hum anno. Sendo necessário a dita sua Quinta, que dicerão valer 5 mil cruzados, e que sendo vendida fique sempre com a ditta obrigação. Nas costas diz que hoje está derribada e que he Nossa Senhora da Paz; e em huma Nota dentro diz que esta Quinta se xama hoje do Campello =»”
Sendo a quinta no termo desta Vila, e o documento estando na Colegiada de Santa Maria, a quinta é no termo de Torres Vedras.
A quinta veio mais tarde a chamar-se quinta do Campello, e não existindo na área geográfica deste concelho outro topónimo igual, ou semelhante, pode concluir-se ser em Campelos, que se localizava esta quinta.
Da memória que algumas testemunhas orais nos transmitiram, com esta fonte podemos confirmar: o nome de Gaspar Campello, e a existência de uma capela.
Pela leitura dos livros de registos paroquiais da paróquia de S. Lourenço dos Francos, na atual União de Freguesias de Miragaia e Marteleira, concelho de Lourinhã, encontramos o Gaspar Campello, e a esposa, Vicência da Cunha a serem testemunhas/padrinhos, comprovando-se que viveram, em alguns períodos nesta sua quinta do Campello.
O Gaspar Campello e a esposa, foram na Igreja de S. Lourenço, padrinhos de batismos e casamentos em: 20 de outubro de 1585, 21 de março de 1589, 27 de maio de 1601, 16 de janeiro de 1603, 9 de outubro de 1605, 12 de novembro de 1606. E a 20 de novembro de 1610 faleceu Gaspar da Cunha, neto de Gaspar Campello, foi sepultado dentro da Igreja.
A igreja de S. Lourenço dos Francos, situa-se a cerca de 3 km de Campelos, foi o templo de culto, autorizado pelo Bispo, para os habitantes de Campelos e lugares próximos, até finais do Século XIX, sendo também frequentada a de Ribeira de Palheiros, até à construção da Igreja de S. António, em Campelos, em 1910.
3. Que sabemos sobre Gaspar Campello
Gaspar Campello terá nascido por volta de 1517, se seguiu a idade habitual para a época de iniciarem os estudos com 16 anos. Como sabemos que ele viveu até pelo menos 1606, temos um homem com uma grande longevidade para a época.
Em 27 de Maio de 1536, na Universidade de Salamanca, é bacharel em Leis, com o doutor António Gomes, não se conhecendo a sua naturalidade, mas Joaquim Veríssimo Serrão diz ser possível que seja natural de Braga, por um quase certo familiar, Ambrósio Campelo, (que em 1541 é bacharel artista, na mesma universidade) ser natural daquela cidade.
Foi Juiz de Fora de: Monção (1539); Viseu (1543) ; Castelo Branco (1567) ; Torres Vedras (1572) ; Leiria (1577) .
Em 1551 está no Algarve a vender foros reais, por Alvará Real
Em 1573 ocupava o lugar de Juiz de Fora de Torres Vedras, e, segundo Margaça Veiga ele não foi reconduzido neste cargo por ter caído nas desgraças da Infanta Dª Maria, (filha de D. Manuel I e da sua terceira esposa, Leonor de Habsburgo) então donatária de Torres Vedras.
A sua nomeação para Juiz de Fora de Leiria, em 1574, reforça a convicção de que estamos a identificar bem a mesma pessoa, já era nosso entendimento, pelos cargos exercidos, ao ser nomeado para Leiria, confirma-se as anteriores nomeações de Torres Vedras e de Castelo Branco, leia-se a transcrição seguinte:
Eu el Rey Faço saber a vos Juizes vereadores procurador fidalguos | cavalleyros escudeyros homens boons e povo da vila | de de [sic] leyrea pela comfiamça que tenho do Lecenciado guaspar campello que fis Juiz de fora da villa de | tores vedras que nas cousas de que o emcareguar me servira bem he fielmente com ha delygemcia Recado que cumpre a meu serviço | e bem de Justiça como ate quy fez na villa | ho mando ora por Juiz de fora desa cidade [sic] leyrea (,,,) a xxii [22] dabrill | de bcLxxiiii [1574] e asy usara das provisoees | que lhe forão pasadas pera a villa de castel branquo | homde tão bem servio de Juiz de fora (…)
No seu exercício do cargo de Juiz de Fora de Leiria, em 1577, há referências deste evento:
A 24 de Novembro, se assentou que fosse o cabido à procissão de Nossa senhora dos Anjos, se lá não estivesse o Juiz de Fora, Gaspar Campello, que estava declarado excomungado, pelas afrontas que fez a capitollares e dar no Moço do choro que tinha ordens menores e levava a crux, e por dar com a vara no pão da cruz.
O Juiz pedio perdaõ ao Cabido, e se assentou, que desdisendo se em publico, nos cruzeiros das igrejas, antes de missa, das palavras que dissera contra os capitolares e beneficiados, e que com colera e paixaõ o dissera e naõ por ser assim, lhe daraõ perdaõ, em forma
Juiz do Cível e do Crime em Lisboa, entre 1578 a 1588.
Em 1578 como Juiz do Cívil de Lisboa, e é um dos intervenientes nas cerimónias fúnebres de D. Sebastião, a 27 de agosto, levando, e partindo, um escudo negro:
(…) e onde logo alevantou outro o Licenciado Gaspar Campello, Juiz do Cível, que levou até o Rocio, ás escadas do Esprital, aonde o quebrou com as mesmas palavras e cerimónias dos outros (…) chorai, senhores, chorai, cidadãos, chorai, chorai, povo, a morte do vosso Rei D. Sebastião, donde voltando pelas ruas dos Arcos, vierão à Sé, aonde se disse huma missa cantada, pela alma delrei.
Em 19/2/1579, Gaspar Campello, é referido numa vereação da Câmara de Lisboa, como Juiz do crime
Por 1582 e 1583, permanece por Lisboa, são os registos de batismo, de Santa Justa, Lisboa, que nos dão essa informação, encontramo-lo como padrinho, mas somente uma vez referido como Juiz.
A 20 de Outubro de 1585, surge como Juiz do crime de Lisboa, em registo de batismo, onde Vicência da Cunha foi madrinha, também em 25 de março de 1587, é o próprio, ao ser padrinho em Santo Estevão, Lisboa, pelo que já o seria quando pediu para dizer missa na sua quinta, citada em cima.
A 13 de junho de 1585 é eleito mordomo da Casa de S. António, em Lisboa
Em 1588 continuava a ser Juiz do Crime, há uma consulta, em 22 de fevereiro desse ano “sobre as pessoas que se nomeão para tomarem residência aos dous Corregedores do Crime desta cidade e ao Juiz do Crime o Licenciado Gaspar Campello”
Em 1589, D. António, Prior do Crato, tenta recuperar o trono de Portugal, com o apoio da Rainha de Inglaterra, Isabel I, vem na que é conhecida por armada Inglesa, partindo de Plymouth, em 18 de abril de 1589, desembarcando em Peniche no dia 23 de maio.
Entre 26 e 28 de maio de 1589 Gaspar Campello terá estado presencialmente com D. António, Prior do Crato, uma vez que ele nestas datas esteve em Atouguia da Baleia e Lourinhã, e ser referido como sabendo que hum letrado que hia Juis do crime em Lisboa que se chamava Gaspar Campello esta perto de Torres Vedras em huma sua quinta, mandou por elle duas vezes certos soldados que lho trouxeram e o encarregou de seu Almotace-mor e posto que disem que se quis escusar, e constranger D. António (…)
Sobre este mesmo tema escreve Francisco Caeiro:
(…) os invasores caminharam pela Lourinhã em direção a Torres Vedras, onde já estavam a 29 de Maio, e seguiram depois por Loures a Alvalade (Campo Grande). A maior parte da população fugira; ficaram quase só os que não tinham que perder, sendo estes afinal, os que pelo caminho iam recebendo D. António com maior curiosidade e simpatia, mas ao que parece, sem entusiasmo. Alguns como o juiz Gaspar Campelo, obrigado ao desempenho das funções de almotacé-mor, parece que o fizeram por coacção (…).
No mesmo sentido, dum envolvimento “forçado”, ou de pouco entusiasmo, poder-se-á depreender da leitura que Veríssimo Serrão, fez numa fonte manuscrita, onde verifica haver engano, de alguns autores, numa confusão entre “Gaspares” em privilégios atribuídos por D. António, numa nota de rodapé, ele corrige esse erro, escrevendo que: « (…) Gaspar Camelo de Melo, vem cit. como “Gaspar Campello” no “rol dos amigos” (…) » , ficamos assim a saber que o Gaspar Campelo estava fora da esfera das pessoas mais próximas de D. António.
Há escritos no sentido de haver adesão e empenhamento do Gaspar Campello na defesa de D. António, são vários os documentos que o indiciam, onde destacamos um escrito da época, de André Falcão de Resende, que também foi Juiz de Fora de Torres Vedras, entre 1577 e 1579, ele terá sido um apoiante de livre vontade , (…) tomando muitas cargas que lhes mandava Gaspar Campello negociara com D. António a entrega de mantimentos às tropas luso-inglesas, como tinha sido Juiz em Torres Vedras e era muito conhecido nesta comarca, forçava a gente fraca, com nome de almotacel moor para trazerem mantimentos aos ingleses (…).
O mesmo nos sugere um outro documento transcrito por Paulo Drumond Braga, ao estudar o crime, castigo e perdão em Torres Vedras, no Reinado de D. Filipe II, encontrou “alguns torrienses acusados de terem apoiado D. António, prior do Crato”, e alguns perdões, e num deles com referência a Gaspar Campello:
(…)Em 1590, foram perdoados Paulo de Faria, pelo crime de “ yr a dom antonio que foi prior do Crato quando veyo com os Ingrezes a este Reino e acompanhar gaspar campello que ho seruja”, bem como Manuel Pires, da Ribaldeira, de “culpa que teue na ocasião pasada dos Ingrezes e dom antonio”. Menos explicitas são as cartas de perdoam João Pereira, em 1591, e João de Miranda, em 1593.
Torres Vedras acolheu o D. António, Prior do Crato que “encaminhou-se, por terra, para Lisboa, achando-se, a 28, em Torres Vedras. Esta entregou-lhe o castelo, ofereceu-lhe as chaves da vila e fê-lo desfilar sob pálio”, aposentou-se nas casas do Prior de Stª Maria, muitos dos habitantes tinham fugido, o alcaide D. Martinho Soares de Alarcão, já tinha avistado as tropas de D. António, que eram em número muito elevado, recuando até Enxara dos Cavaleiros. Há, pois, um forte envolvimento de vários habitantes da região nesta última tentativa de D. António reclamar o trono de Portugal.
Derrotadas as tropas inglesas, e a partida de D. António, o rei compensa apoiantes, como foi o caso do alcaide D. Martinho, a quem agraciou como Conde de Torres Vedras, e, “no dizer colorido de um dos mais ricos cronistas dos acontecimentos, Pero Rodrigues Soares,
desde Peniche ate ca Como en cascais e no termo de lixª, e nesta cidade prendendo a destro e a sinestro en todos naõ se Reuoluendo mto Tempo menistros portugueses senaõ en fazer Iustª nos tais mandando enforcar asoutar degradar tomar fazendas
É neste quadro de perseguição aos apoiantes de D. António que deve ter levado o Gaspar Campello a fazer alterações na sua vida, julgamos que a partir desta data se refugiou na sua quinta, aqui nas proximidades da atual localidade de Campelos, termo de Torres Vedras, pois a partir de 1589 não voltamos a encontra-lo nos registos das paróquias de Lisboa, e em contraponto surge com maior frequência (5 vezes), nos registos de S. Lourenço dos Francos, a última das quais em 1606 e uma vez na Vila de Torres Vedras (1603).
Parece assim encontrada a justificação para andar escondido e em fuga, como algumas testemunhas disseram.
Pela leitura do Livro de Acórdãos da Câmara Municipal de Torres Vedras, (consultável no Arquivo Municipal de Torres Vedras) dos anos em que Gaspar Campello foi Juiz de Fora, temos a sua assinatura, a imagem infra é da reunião de 10 de janeiro de 1573:
Os Juízes de Fora eram nomeados pelo Rei, e por inerência eram eles que presidiam às Câmaras Municipais. O estabelecimento dos Juízes de Fora ocorreu com D. Afonso IV, e generalizou-se com o Rei D. Manuel I, eram nomeados por períodos de um a três anos, podendo ser reconduzidos por outro mandato. A figura de Juiz de Fora desaparece após a implementação do Juiz de Direito, em 1832.
4. Como a Quinta do Campello veio à posse dos habitantes de Campelos?
Foi mais vez a memória que nos deu as pistas, e nos conduziu aos documentos que confirmam a ligação da Quinta do Campello ao património do Convento da Graça.
Ainda não conseguimos saber como, nem quando, metade da quinta do Campelo entrou na posse do Convento da Graça, de Torres Vedras, mas há uma nota de tabeliães, datada de 1632 “Arrendamento de Manuel Vieira Cardoso, da ilha 3ª da sua metade da quinta do Campello, em Torres Vedras, e declara ser a outra metade dos frades da Graça, por partilhas em 19 de Outubro”.
A posse de parte da quinta, pertença do convento da Graça, deve estar relacionada com o filho de Gaspar Campello, o António Campello, que foi frade na Ordem de S. Agostinho, tendo professado em Lisboa, a 3 de maio de 1607
Felgueiras Gayo refere o António Campello como eremita, Manso Lima diz ter sido frade Agostinho, e que doou prazo, em Braga a sua prima Leonor Campelo, por escritura em Évora, em 3 de março de 1634, e terá morrido em 1650.
Nazareno Campello, no início do sec. XX, escreve que este “Frei António Campello, foi religioso da Ordem de Stº Agostinho, e sendo prelado do seu Mosteiro de Torres Vedras fez doação de um prazo a Estevão Falcão”, como este não o satisfez, doou o mesmo prazo a sua prima Leonor, na data suprarreferida.
Em 1764 o pagamento de foro (uma espécie de renda paga em géneros) ao Convento da Graça, de Torres Vedras, por Manuel Esteves, por 20 alqueires de trigo e 20 de cevada.
Com a extinção das ordens religiosas, em 1834, os usufrutuários do foro, António Luis, e sua mulher Custódia Maria, redimiram o foro, recorrendo a um empréstimo, no montante de 300.000 reis, junto da Santa Casa da Misericórdia de Torres Vedras, em agosto de 1851.
Transcreve-se parte desse documento a parte do pagamento do foro: “foi dito pelos referidos António Luís e sua mulher que eles são senhores e possuidores do domínio útil de hum prazo denominado o prazo da Graça, por Ter sido foreiro do extinto convento da Graça desta villa em 40 alqueires de pão meado trigo sevada 3 carradas de sepa, 4 feixes de junco e 4 frangos, e hoje se pagão este foro à Fazenda Nacional, com menos a redução da quarta parte, segundo a disposição da Lei”.
Hoje esta propriedade está fragmentada, pelas sucessivas heranças dos descendentes daquela família, uma das mais numerosas em Campelos.
Campelos, abril de 2025
José Damas Antunes
(Mestrado em História Contemporânea)
Colaboração e apoio da Professora Ana Pereira Ferreira (Doutorada em História Medieval)
Fontes e Bibliografia
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A.N.T.T., Arquivo Nacional Torre do Tombo. D. João III. Chancelarias Régias. Lisboa : s.n., D. João III.
—. D. Sebastião e D. Henrique. Chancelarias Régias. Lisboa : s.n., D. Sebastião e D. Henrique.
A.N.T.T., Lisboa, Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Colegiada de Santa Maria do Castelo, Torres Vedras, volume 32, maço 23.
—. Registos Paroquiais, baptismos, casamentos, óbitos, mistos, Lourinhã, Miragaia.
—. Registos Paroquiais,baptismos, Lisboa, Santo Estêvão.
—. Regsitos Paroquiais, baptismos, casamentos, óbitos, mistos, Lisboa, Santa Justa.
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VEIGA, Carlos Margaça. 20/7/2012. A Vivência Quotidiana Municipal Torriense no Século XVI. Conferência assistida por mim. Santa Cruz, Azenha : Câmara Municipal de Torres Vedras, Chás de Pedra, 20/7/2012.
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