domingo, 18 de dezembro de 2016

Casal do Rol - Quinta do Rol

Julgamos que a Quinta do Rol, anteriormente denominado Casal do Rol, que se situa próximo da Ribeira de Palheiros, freguesia de Miragaia, do concelho da Lourinhã, deve o seu nome a Álvaro Rol.
Chegamos a esta conclusão pela leitura dos Registos Paroquiais de S. Lourenço dos Francos, paróquia da referida Miragaia.
Álvaro Rol, casado com Isabel Álvares, faleceu a 20/2/1654, morava no Casal de D. Joana da Silva, junto a Ribeira de Palheiros,  é pai de Maria Duarte, natural do mesmo Casal, que casou 22/7/1657, com Domingos Rodrigues, natural das Papagouvas, da mesma freguesia.
O Domingos Rodrigues e a Maria Duarte foram pais de 11 filhos, entre os anos de 1658, e 1675. Os 3 primeiros (Maria, Isabel e Domingas) nasceram no Casal de D. Joana da Silva, os 4 seguintes (Domingos, João, Francisca, e João) nasceram em Papagouvas, os dois seguintes (Manuel e António) nasceram no Casal de Ambrozio Passanha Pereira, e os dois últimos (Francisco e António) nasceram no Casal do Rol.
Ambrózio Passanha Pereira, senhor do Morgado da Lourinhã, foi casado com D. Joana da Silva, foram pais de pelo menos 5 filhos, ele faleceu em 1635, na Lourinhã, por isso nos primeiros registos dos filhos de Maria Duarte está Casal de D. Joana da Silva.
Depois os dois penúltimos filhos estão registados como nascidos no Casal de Ambrozio Passanha Pereira, que será o neto do anterior, filho de João Pestana Pereira, e de D. Luísa Antónia de Gusmão.
Os dois últimos filhos já nasceram no Casal do Rol, cujo nome se deve ter popularizado pelo apelido dos seus moradores, primeiro o Álvaro Rol, supra referido e depois, o João Rol, que deve ser filho daquele, morou também no Casal de D. Joana da Silva, pelo menos entre 1655, e 1664, data em que foi pai de 5 filhos.
Dois dos filhos de Maria Duarte, a Domingas da Conceição, e o Domingos Rodrigues, viveram e foram pais no Casal do Rol, já não há referências aos outros nomes, para o local. O último descendente desta família que encontramos a residir no Casal do Rol, é Maria Joaquina Santos, mãe de Manuel Vieira, ali nascido em Março de 1787.

Não estamos a considerar a hipótese de a mudança de nome se dever a mudança de proprietários, pois consideramos muito pouco provável, atendendo à origem aristocrática dos Passanha Pereira, ou, Pestana. Só pesquisas mais aprofundadas, ou até uma mera leitura das décimas poderá ajudar a perceber se a propriedade se mantém nas gerações seguintes,  na mesma família ou não.    

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Família Cunha Manuel, do Oeste, ligação aos Torel, e talvez ao Gaspar Campello


1 - Lourenço da Silveira, foi Juiz dos órfãos da Lourinhã, faleceu a 12//7/1613, naquela Vila, foi casado com Filipa da Cunha, falecida a 9/3/1601, na Lourinhã, moradores na Marteleira, freguesia de S. Lourenço dos Francos, hoje Miragaia, concelho da Lourinhã, conhecemos a existência de 4 filhos:
2- Maria da Cunha, que casou a 4/5/1592, na Marteleira, com António de Gouveia, natural de Lisboa. testemunhas, entre outras António Godinho, de Torres Vedras, e Francisco Vaz, de Cascais. Não temos certeza, por não se conseguir documentar, colocamos como hipótese, pelo apelido, e por ligações com com outras pessoas, ser seu filho Francisco Gouveia da Cunha.
3 - Filipa, falecida em 1601, na Lourinhã
4 - Isabel da Silveira, casou a 20/2/1594, também na Igreja de S. Sebastião da Marteleira, com Francisco Vaz, de Cascais, desconhecemos descendência.
5 - Nicolau da Cunha Silveira, sabemos pela leitura do livro de Bacharéis de seu neto Francisco, que casou com Catarina Josefa, natural de Ribamar, Lourinhã, e conhecemos dois filhos, a Maria da Cunha, e o Nicolau da Cunha Silveira.

2 - Maria da Cunha, casada com António de Gouveia devem ter sido os pais de:
6 - Francisco Gouveia da Cunha, em 1656 era mesário, conselheiro nobre na Misericórdia da Lourinhã, em 1646 foi padrinho de Francisco, filho de Nicolau da Cunha Silveira casou com Maria de Mariz, filha de Sebastião Guoriso, e de Bárbara de S. Paio, viveram na sua Quinta do Espírito Santo, em Sapataria. julgamos não haver descendência, pois encontramos a referida quinta em posse de descendentes do Nicolau da Cunha Silveira.

5 - Nicolau da Cunha Silveira casado com Catarina Josefa, pais de:
7 - Maria da Cunha que faleceu solteira, em 29/9/1622, em Runa, julgamos que na casa do irmão.
8 - Nicolau da Cunha Silveira, nasceu na Lourinhã, faleceu na Lourinhã em 1667, casou com D. Maria Manuel Bobadilha, faleceu em Runa em 1692, que colocamos como hipótese, (pelo peso que o apelido Manuel tem no futuro, e por também haver ligações a Santarém) ser descendente de D, Bernardo Manuel, alcaide mor de Santarém, que casou 2ª vez (1520) com Maria de Bobadilha.
Este casal viveu primeiro na Lourinhã, onde nasceram 3 filhos, e depois em Runa, onde nasceram outros 3 filhos:
9 - Francisco da Cunha Manuel, nasceu na Lourinhã em Setembro de 1646.
10 - Engrácia, nasceu na Lourinhã em Junho de 1648.
11 - Joana, nasceu na Lourinhã em Junho de 1652.
12 - João, nasceu em Runa em Dezembro de 1653.
13 - Luís, nasceu em Runa em Julho  de 1658.
14 - Leonor, nasceu em Runa em Junho de 1660.

9 - Francisco da Cunha Manuel, Juiz dos órfãos da Lourinhã, faleceu em Runa em 1685, casou a 18/7/1668, em Santa Catarina, Lisboa, com D. Sebastiana de Seixas Félix, natural de Lisboa, filha de Máximo Arruda de Seixas, e Maria de S. António de Oliveira, viveram em Runa, onde foram pais de 8 filhos;
15 - Maria Madalena da Cunha, nasceu na Lourinhã
16 - Nicolau da Cunha Manuel, nasceu em Runa, em Agosto de 1669.
17 - Máximo, nasceu em Runa, em Julho de 1670.
18 - José, nasceu na Lourinhã, em Julho de 1675.
19 - Joana Francisca da Cunha Manuel, nasceu na Lourinhã, em Julho de 1678.
20 - João, nasceu em Runa em Novembro de 1680.
21 - Catarina, nasceu em Runa em Janeiro de 1683.
22 - Luís, nasceu em Runa em Abril de 1685.

15 - Maria Madalena da Cunha, casou a 17//7/1706, na Ermida da Quinta do Espírito Santo, Sapataria, Sobral de Monte Agraço, viúva de Jacques Hubert, com António Bellet, natural de Lyon, França, filho de Jaques Bellet de Tavernost, e de Catarina Alexandre, faleceu no terramoto de 1755, em Lisboa. conhecemos um filho:
23 - José Bellet da Cunha, várias vezes padrinho de baptismos, em Sapataria, entre 1728 e 1761, faleceu na Quinta do Espírito Santo, Sapataria, a 7/12/1764, solteiro, foi sepultado na Igreja da Sapataria, junto ao altar de S. Braz, acompanhado à sepultura com 16 padres, fez-se-lhe ofício a que assistiram 19 padres, fez testamento.
Nota - Esta Quinta do Espírito Santo é hoje propriedade da Comunidade Vida e Paz, por doação, em 1994,  de Julle Loose, cidadão Belga, o que nos leva a colocar a hipótese de poder ter havido continuidade familiar, atendendo à proximidade do geográfica com o 1º proprietário por nós conhecido ser de França, o supra referido António Bellet.

16 - Nicolau da Cunha Manuel, Cavaleiro Fidalgo e da Ordem de Cristo, Capitão do Guarda Roupa de Sua Majestade D. João V, Juiz dos órfãos da Lourinhã, Escrivão do Cível de Lisboa e  da Corte, casou a 8/12/1692, em S. Salvador, Santarém, com Cecília Doroteia da Costa, filha do Dr. Miguel Barbosa Carneiro, e de D. Leonor da Fonseca, viveram em Runa, foram pais de:
24 - Isabel Teresa da Cunha Manuel, madrinha de sobrinha Cecília, em 1718, na Igreja de Dois Portos.
25 - Sebastiana Francisca da Cunha Manuel, nascida em S. Salvador, Santarém.
26 - Leonor, nasceu em Runa em Outubro de 1695, os pais moravam em Marvila, Santarém.
27 - Francisco, nasceu em Runa em Setembro  de 1696.
28 - Francisca, nasceu em Runa em Junho de 1699.
29 - Francisco da Cunha Manuel, nasceu em Runa em Setembro de 1703.
30 - Maria Caetana da Cunha Manuel, nasceu em Runa em Outubro de 1705.
31- Miguel Barbosa Carneiro, nasceu em Runa em Março de 1707, em 1737 era frade,  da Ordem de Santiago, morava num colégio, em Coimbra. Em 1738 era Fidalgo capelão.
32 - Antónia Teresa da Cunha, nasceu em Runa em Maio de 1708, faleceu na Quinta do Espírito Santo, Sapataria, deixando como seu testamenteiro o sobrinho Nicolau da Cunha Manuel.
33 - Ana Teresa da Cunha Manuel, nasceu em Runa em Setembro de 1709, em 1740 foi madrinha por procuração, estava recolhida no Convento da Rosa, em Lisboa.

19 - Joana Francisca da Cunha Manuel, casou a 4/5/1701, em Santa Catarina, Lisboa, com Marcos António Thorel, natural de Roão, França, filho de António Thorel, e de Joana de Hors, já escrevemos sobre esta família, e seus descendentes, foram pais de:
34 - Francisco António Torel, nasceu em S. Paulo, Lisboa em Fevereiro de 1702.
35 - João Caetano Torel da Cunha Manuel, nasceu em S. Paulo, Lisboa em Março de 1703.
36 - António José Torel, nasceu em S. Paulo, Lisboa em Fevereiro de 1705.
37 - José Torel, nasceu em S. Paulo, Lisboa em Dezembro de 1706.
38 - Nicolau Joaquim Torel d a Cunha Manuel, nasceu na freguesia de Sacramento, Lisboa, em Setembro de 1712.
39 - Ana, gémea, nasceu na freguesia de Sacramento, Lisboa, em Setembro de 1718.
40 - Joaquim, gémeo, nasceu na freguesia de Sacramento, Lisboa, em Setembro de 1718.

25 - Sebastiana Francisca da Cunha Manuel, faleceu na Ribaldeira em Setembro de 1718, casou a 19/11/1716, em Runa, com Luís da Cunha Toar e Lemos, natural da Ribaldeira, Dois Portos, filho do Capitão Luís da Cunha Toar e Lemos, e de D, Maria Luiza Bernardes, forma pais de:
- Cecília, nasceu na Ribaldeira Julho de 1718.
29 - Francisco da Cunha Manuel, em 1738 Fidalgo da Casa Real, casou a 18/8/1754, em Runa, com D. Ana Felizarda Henriques de Castro e Melo, natural da Lourinhã, filha de Martinho Correia da Silva, e de D. Ana Henriques de Castro e Melo, pais de:
- Nicolau da Cunha Manuel de Melo e Castro.
30 - Maria Caetana da Cunha Manuel, casou a 29/6/1729, em Runa, Francisco António Torel, (nº 34 supra referido) sendo dispensados, da consanguinidade, por serem primos, em Runa foram pais de:
41 - Nicolau da Cunha Manuel Thorel, que faleceu em Junho de 1801, na Quinta do Espírito Santo, Sapataria. Deixou seu testamenteiro o irmão Francisco Xavier da Cunha Torel.
42 - D, Maria Joaquina da Cunha Torel, madrinha em 1736, na Sapataria.
43 - Joana Rita da Cunha Manuel, faleceu em Fevereiro de 1778, na Quinta do Espírito Santo, Sapataria.
44 - Francisco Xavier da Cunha Torel, nasceu em Runa em Dezembro de 1733, Monsenhor da Stª Igreja Patriarcal de Lisboa, é o testamenteiro de seu irmão Nicolau da Cunha Manuel, e de seu tio o Bispo Nicolau Joaquim Thorel da Cunha Manuel.
45 - Agostinho Manuel, nasceu em Runa em Agosto de 1735, foi seu padrinho, presencialmente o Infante D. Manuel, filho do Rei D. Pedro II.
46 - José, nasceu em Runa em Outubro de 1736.
47 - Luís, nasceu em Runa em Outubro de 1737.
48 - José Joaquim da Cunha, nasceu em Runa em Março de 1740, foi Baptizado pelo Dr. Nicolau Joaquim Thorel, Presbítero do Cabido de S. Pedro, Deputado do Stº Ofício na Inquisição de Lisboa, e morador na mesma cidade. Faleceu em 1796 na Quinta do Espírito Santo, Sapataria, deixando como testamenteiro seu irmão Nicolau da Cunha Manuel.


Considero, como hipótese, a Filipa da Cunha, supra referida, casada com Lourenço da Silveira, que nos surge como madrinha em baptismos de S. Lourenço dos Francos, ser irmã da esposa, ou filha de Gaspar Campello.
Ao fazermos a pesquisa na Habilitação de Genere do Bispo Nicolau Torel da Cunha Manuel,  havia a esperança de confirmar esta ligação, mas só recua até Nicolau da Cunha Silveira, e na  Leitura de Bachareis, de Francisco da Cunha Manuel,  recuamos até ao pai deste, que também tem o mesmo nome Nicolau da Cunha Silveira, que sabemos ser filho de Lourenço da Silveira e de Filipa da Cunha, que pelo casamento da filha Isabel da Silveira, sabemos que moravam na Marteleira onde o casamento se realizou, em 1594.

Gaspar Campello, que deu origem ao nome da Vila de Campelos, devido à Quinta que aqui tinha, era casado com Vicência da Cunha, foi padrinho de casamentos e baptismos em S. Lourenço dos Francos, entre 1589 e 1608, e sabemos que em 1610 faleceu e foi sepultado naquela igreja Gaspar da Cunha, neto de Gaspar Campello, portanto o apelido Cunha passou na geração seguinte, e atendendo aos registos encontrados naquela freguesia, nesse período, consideramos como filhos, no campo das hipóteses: Jacinta da Cunha, Nicolau da Cunha, Filipa da Cunha, supra referida, e António Campelo. Não sei se conseguirei confirmar estas hipóteses, que têm fortes indícios de possibilidade, mas que falta provar documentalmente.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Torel um apelido que me parece ter ligações ancestrais com Gaspar Campello.

Torel é nome de jardim em Lisboa, está situado, entre a Av. da Liberdade e o Campo Mártires da Pátria, ir pelo elevador do Lavra, que se apanha próximo da Av. da Liberdade, é um dos modos de lá se chegar. Este jardim é assim descrito pela Câmara de Lisboa:
Deste miradouro disfruta-se de uma vista desafogada sobre o vale da Avenida da Liberdade e a colina de São Roque, onde se destaca o jardim de São Pedro de Alcântara, os sucessivos patamares da Calçada de Santana e de um modo geral a zona Ocidental da cidade.
O Jardim do Torel, originário de uma quinta do início do século XVIII, deve o seu nome ao desembargador Cunha Thorel, o mais rico proprietário da zona. Em janeiro de 1928 o terreno do palácio foi cedido à Câmara Municipal de Lisboa que aí construiu o jardim e o miradouro, do qual se observa uma deslumbrante vista da parte ocidental de Lisboa. O espaço envolvente a este jardim é rico em numerosos exemplares de moradias nobres dos séculos XVIII e XIX. Em 2000 o Jardim do Torel foi alvo de uma intervenção de requalificação e restauro. A obra incluiu a instalação de um novo sistema de iluminação pública, composto por iluminação de presença e decorativa, possibilitando que de outros locais da cidade, o Jardim do Torel seja mais um ponto de interesse panorâmico na noite de Lisboa.
Na investigação histórica que venho efectuando focada essencialmente em Lourinhã e Torres Vedras cruzei-me com estes Torel, ou Thorel, nos Registos Paroquiais de Lourinhã, Runa e Sapataria.
O desembargador Cunha Thorel referido no sítio da Câmara de Lisboa é João Caetano Thorel da Cunha Manuel, nascido na freguesia de S. Paulo, Lisboa, no ano de 1703, filho de Marcos António Thorel, nascido em Ruão (Rouen em francês), Normandia, França, e de Joana Francisco da Cunha Manuel, nascida em 1678 na Vila da Lourinhã, que tinham casado em Maio de 1701, na Igreja de S. Catarina, Lisboa, foram pais de pelo menos 7 filhos, entre 1702 e 1718:
1702 - Francisco António Thorel, Cavaleiro da Ordem de Cristo,  casou em Runa, em 1729 com a sua prima direita Maria Caetana da Cunha Manuel, nascida em Runa, filha do seu tio materno o Capitão Nicolau da Cunha Manuel, deste casamento nasceram em Runa 8 filhos, dos quais não conhecemos descendência, alguns dos filhos faleceram na Quinta do Espírito Santo, da Sapataria, Sobral de Monte Agraço, o que mais se destacou parece ter sido o Francisco Xavier da Cunha Torel, foi testamenteiro do seu irmão Nicolau, e de seu tio o Bispo Nicolau Torel da Cunha Manuel, Em 1801 é referido como Monsenhor da Santa Igreja Patriarcal de Lisboa, no registo de óbito do irmão.
1703 - João Caetano Torel da Cunha Manuel, Bacharel em Leis, pela Universidade de Coimbra, Corregedor de Elvas, Corregedor do Crime do Bairro Alto, Desembargador da Casa da Suplicação, Corregedor do Cível da Corte, casou com D. Agostinha Antónia Henriques Melo e Castro, foram pais de 3 filhos.
1705 - António José Torel, casou em 1745, na Igreja dos Anjos, com D. Maria Josefa de Mendonça, e mais tarde com Maria Antónia Margarida Couceiro Marreca, de que se conhecem 4 filhos.
1706 - José Thorel, faleceu solteiro na Quinta do Espírito Santo, Sapataria, Sobral de Monte Agraço, em 1766.
1712 - Nicolau Joaquim Thorel da Cunha Manuel, formado em Cânones em 1739, pela Universidade de Coimbra, Inquisidor do Tribunal de Évora durante uma década, Deputado do Conselho Geral da Inquisição, Provisor da Diocese do Porto (1768-1770), Bispo de Lamego (11/1770-7/1772), faleceu em Julho de 1772, na Quinta do Desembargador José Inácio Rodrigues, em Carnide, nomeia como testamenteiro seu sobrinho Francisco Xavier da Cunha Torel, Deputado do Santo Ofício e Juiz Geral das Ordens, morador na Rua larga de S: Roque, Lxª, foi sepultado no Convento de S. João da Cruz dos religiosos carmelitas descalços deste lugar de Carnide, como deixou determinado no seu testamento. Faleceu sem ocupar o cargo de Bispo de Lamego.
1718 - Joaquim, e Ana, gémeos, sem mais informação.
Coloco como hipótese a Filipa da Cunha, que nos surge como madrinha em baptismos de S. Lourenço dos Francos, ser irmã da esposa, ou filha de Gaspar Campello, então estes “Torel” são seus descendentes pelo lado materno, a supra referida Joana Francisca da Cunha Manuel.
Ao fazermos a pesquisa na Habilitação de Genere do Bispo Nicolau Torel da Cunha Manuel,  havia a esperança de confirmar esta ligação, mas só recua até Nicolau da Cunha Silveira, e na  Leitura de Bachareis, de Francisco da Cunha Manuel,  recuamos até ao pai deste, que também tem o mesmo nome Nicolau da Cunha Silveira, que sabemos ser filho de Lourenço da Silveira e de Filipa da Cunha, que pelo casamento da filha Isabel da Silveira, sabemos que moravam na Marteleira onde o casamento se realizou, em 1594.
Gaspar Campello, que deu origem ao nome da Vila de Campelos, devido à Quinta que aqui tinha, era casado com Vicência da Cunha, foi padrinho de casamentos e baptismos em S. Lourenço dos Francos, entre 1589 e 1608, e sabemos que em 1610 faleceu e foi sepultado naquela igreja Gaspar da Cunha, neto de Gaspar Campello, portanto o apelido Cunha passou na geração seguinte, e atendendo aos registos encontrados naquela freguesia, nesse periodo, consideramos como filhos, no campo das hipóteses: Jacinta da Cunha, Nicolau da Cunha, Filipa da Cunha, supra referida, e António Campelo. Não sei se conseguirei confirmar estas hipóteses, que têm fortes indícios de possibilidade, mas que falta provar documentalmente.

Como podemos ver nas referências às pessoas com o apelido Torel, o apelido Cunha Manuel, mantém-se, e por vezes até sobressai, em breve escreveremos sobre ele.

domingo, 16 de outubro de 2016

Apelido Paulo, na freguesia de Campelos


O apelido Paulo, na freguesia de Campelos, Torres Vedras, frequente sobretudo na Cabeça Gorda, mas com um ramo também no Casalinho das Oliveiras, tem a sua origem possivelmente na mesma pessoa o Paulo Vieira (481), nascido em 1764, nos referido Casalinho, donde a mãe era natural, e o pai dali próximo, do Casal das Quintas.
O Paulo Vieira (481) nascido no Casalinho da Oliveiras, S. Maria, Torres Vedras, casou em 1788 com Helena Maria (482), dez anos mais velha, natural da Marteleira, deste casamento nasceram pelo menos 3 filhos, a Maria Isabel (479), a Domingas Maria (1091) e o Manuel Paulo (1092), que constituíram família e viveram por aqui perto.
1 - A Maria Isabel (479) nascida em 1789, casou  em 1810 com Manuel Joaquim (478), viveram em Casais do Rijo, foram pais de pelo menos 12 filhos, dos quais destaco, (por ter interesse para a continuação deste apelido Paulo) o José Joaquim (Marquez), e o Paulo Joaquim (1263).
O José Joaquim (Marquez) nasceu em 1830, casou em 1858 com Carlota do Nascimento, natural do Casal da Charneca, S. Maria, Torres Vedras, e com Maria Roza (5977) em 1900. do 1º casamento nasceram 10 filhos,em Casais do Rijo, Campelos e Cabeça Gorda, um deles o Paulo Joaquim (2777), em 1869. Este Paulo casou em 1894 com Josefa Maria (2434), da Amieira Grande, viveram na Cabeça Gorda, onde nasceram pelo menos 7 filhos, três dos quais com o apelido “Paulo”, o António Paulo (3520), o José Paulo Joaquim (3361), e o João Paulo (3358), dos quais há vários descendentes com este apelido.
O Paulo Joaquim (1263), nascido em 1834, irmão do anterior, tio do outro Paulo Joaquim (3361), casou em 1874, com Joaquina da Conceição (3305), natural dos Casais das Campainhas, foram pais de dois filhos (ele faleceu em 1885), um deles o Manuel Paulo (3306), nascido em 1875 nos Casais do Rijo, casou com Delfina da Conceição (5095), natural da Cabeça Gorda, onde viveram, foram pais de pelo menos 5 filhos, o Joaquim Manuel Paulo, António Paulo (Cruz), Manuel Paulo (6859), José Paulo, e Maria Delfina, dos quais há vários descendentes com o apelido Paulo.
2 - o Manuel Paulo (1092) nasceu em 1797, casou em 1839 com Eufrazia da Conceição (1773), natural do Casal Junceira, da Moita dos Ferreiros, viveram no Casalinho das Oliveiras e foram pais de pelo menos 8 filhos, dos quais pelo menos o José Paulo (1777) e o Francisco Paulo (1778), deixando descendência com este apelido.
Assim podemos concluir que ambos os ramos com apelido Paulo terão a sua origem na mesma pessoa o Paulo Vieira (481) este apelido vieira vem do lado feminino, e do Ramalhal.

Fica para uma próximo a descrição mais em pormenor, mas o apelido Marquez, ou Marquês, um deles acima referido, deve derivar de uma “alcunha”, pois são todos filho do referido Manuel Joaquim (478), são todos primos destes com o apelido Paulo.

Apelido Caetano, na Freguesia de Campelos.

Caetano

Na área da freguesia de Campelos, Torres Vedras, até 1945 eram três as origens dos apelidos Caetano.
De um desses ramos desconhecemos a origem, mas em 1949 foi baptizado, já nesta freguesia uma criança com o apelido Caetano, filha de Francisco Caetano, mas não registámos origem dos pais, nem temos mais informação.
Os outros dois ramos com apelido Caetano:
Um são os descendentes de Caetano Ferreira (1068), natural e residente em vale de Lobos, nasceu em 1793, casou duas vezes, foi pai de pelo menos 12 filhos, sabemos de um deles, o José Caetano (12429) que ficou com o apelido Caetano, mas é do filho Joaquim Ferreira (1037), nascido em 1824, e que veio a casar com Maria da Conceição (1059), natural de Casais do Rijo, onde a família se fixou, e mais tarde em Campelos, são pais de pelo menos cinco filhos, dois deles com o apelido Caetano, o João Caetano (2105), nasceu em Campelos em 1855, casou e viveu em Miragaia, e o António Ferreira Caetano (1070), nascido em Casais do Rijo, em 1847, casou com Maria da Conceição, natural do Vimeiro, fixaram residência na Cabeça Gorda, e foram pais de pelo menos 10 filhos, em que alguns ficaram com o apelido Caetano Ferreira, parecendo-nos que hoje ninguém mantém este apelido.
Assim das famílias mais antigas da freguesia, segundo o nosso conhecimento,  só uma delas continua a manter o apelido Caetano, são os descendentes de Caetano Francisco (21910), pai de António Caetano (4799) nascido em Lapaduços, Vila Verde dos Francos, Alenquer, e avô de Sebastião Caetano (2073), nascido naquela freguesia, casou com Isabel de Jesus (1408), natural de Campelos, onde passaram a viver e foram pais de pelo menos três filhos, um deles o José Caetano (2077) nascido em 1907, casou em Campelos em 1931, e teve pelo menos dois filhos, sobreviveu o António Caetano (5159), cuja descendência mantém vivo o apelido Caetano.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Sobre o nascimento da Banda de Campelos

Ao ler o livro da Festa de Campelos, deste ano de 2016, lembrei-me que julgava ter alguma informação sobre os primeiros passos da Banda, fui ao meu arquivo à procura das actas da Comissão de Jovens Católicos de Campelos, uma a que tive o prazer de presidir, que funcionou na Igreja Nova, entre 1975 e 1980.
Este grupo foi fazendo diversas actividades no salão, na biblioteca paroquial e na cave, sendo o dinheiro angariado para obras e equipamento na respectiva Igreja, antes mesmo da sua benção, que lembramos se concretizou em 19/12/1976, pelo Senhor Cardeal Patriarca D. António Ribeiro. Estamos pois no ano das comemorações do 40º Aniversário desta Igreja.
Mas voltemos à Banda, lendo as actas desse grupo de jovens,  encontrei alguns pormenores que aqui deixo:
A 21 de Dezembro de 1975 e a 1 de Janeiro de 1976 realizou-se no Salão da Igreja a apresentação de uma récita realizada pelos “miúdos” da catequese, de que resultou uma receita, de 2.180 escudos, A Comissão discutiu sobre o modo de aplicar esse dinheiro. Um cenário foi: dividir a verba em 3 partes, compra de livros; compra de jogos de sala; e compra de guias (livros) para a catequese. O outro cenário, que acabou por vingar, foi o de realizar uma reunião de pais para se discutir melhor a solução a dar ao dinheiro.1
No dia 9 de Janeiro a Comissão decidiu que só daria início à reunião, dando de seguida a palavra aos responsáveis, e aos pais das crianças que participaram na récita da festa de natal.(2)
A 25 de Janeiro de 1976 realizou-se no Salão Paroquial a reunião com os pais, para se decidir do destino a dar-se ao dinheiro relativo à festa de natal. Ficou acordado por unanimidade que se comprassem jogos infantis e livros (...) alguns pais e mães vão dar o seu apoio e colaboração, a ajudar a tomar conta das crianças aos domingos, no salão e no parque infantil.
No 2º ponto da reunião falou-se na vinda de um maestro no caso de haver adultos e crianças interessadas em aulas de música. As inscrições estão ao cargo do Sr. José Augusto (Zeca?). A acta foi assinada por Maria Natália da Terra Maciel de Magalhães Andrade, e  Isália Maria Damas Antunes.

A 20 de Fevereiro o José Augusto dos Santos pediu a demissão da Comissão de Jovens, obviando que não pode devido ao trabalho e à música, mas fica a ajudar quando poder. Esta demissão demonstra que houve inscrições e as aulas de solfejo se iniciaram durante o mês de Fevereiro de 1976.(3)

(1) Acta nº 12 de 2 de Janeiro de 1976, presentes na reunião: José Damas, Rosina Quitéria Nunes, Mateus Francisco dos Santos, Luis Lopes Neto, Francisco Domingos, António Manuel Luis, José Tomé, e Jorge Antunes.Neste mesmo dia fomos informados que estava para breve a requisição de água para a Igreja (e que as loiças dos WC iam ser colocadas só para o Engº não falar).
(2) Acta nº 13, presentes na reunião; José Damas, Carlos Henriques, José Tomé, Margarida Luís, José António Neto, Rosina Nunes, Mateus Santos, Jorge Antunes, António Manuel, José Augusto Neto, José Augusto Santos. Nesta reunião ficou combinado irmos para a oficina do Luis Domingos fazer cadeiras para o salão (a maioria das que ainda hoje lá existem).
(3) Acta nº 17, presentes na reunião: Mateus, Rosina, Guida (Margarida Luís), António Manuel, Francisco Henriques, Gena (Eugénia Neto), Ana Luzia, Amândio, e Zé Damas.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Repor Gaspar Campello como patrono da Escola

Artigo de opinião publicado no Jornal Badaladas

Pela reposição do Patrono Gaspar Campello à Escola Básica 2-3 de Campelos

Depois de me aperceber da alteração do nome da Escola do 2º e 3º Ciclo de Campelos, em que perdeu o seu Patrono “Gaspar Campello”, não descansei enquanto não obtive explicações para essa mudança, e tudo farei para que haja a sua reposição.
Fiquei desagradado com a alteração, mas, como poderia ser a minha ligação afectiva à escola a falar mais alto, questionei outras pessoas verificando a mesma surpresa que eu tinha tido, e também descontentamento para com a mudança do nome. Não sei se a maioria das pessoas está ou não de acordo comigo, mas tal não me impede de defender uma opinião, e é nesse sentido que escrevo.
Em Setembro, a quando da inauguração da nova “Escola Básica do 1º Ciclo e Jardim de Infância de Campelos” comentei com os Vereadores do PSD esta alteração, o que os levou a questionarem na reunião seguinte da Câmara Municipal de Torres Vedras, obtendo a resposta de que o executivo municipal nada tinha a ver com essa alteração.
Procurei saber via mail, enviado a 13 de Setembro, junto do “Agrupamento de Escolas Padre Vítor Milícias” as justificações, tendo sido informado que a actual Direção do Agrupamento desconhecia os motivos da alteração, que à data da agregação dos dois agrupamentos (em abril de 2013), já a referida escola se denominava "Escola Básica 2,3 de Campelos" e o agrupamento "Agrupamento de Escolas de Campelos".
Mais informaram que a designação dos estabelecimentos de ensino pode ser alterada pela Direcção Geral dos Estabelecimentos Escolares que é a entidade competente para esse efeito.
A 7 de Outubro contactei pela mesma via esta Direcção Geral, colocando as mesmas questões, a resposta veio a 15 de Dezembro informando:
“Que a publicação do Decreto-Lei nº 299/2007, de 22 de agosto, que introduziu alterações ao Decreto-Lei nº 387/1990, de 10 de dezembro, e define as normas aplicáveis à denominação dos estabelecimentos de educação ou de ensino públicos, deu início a um processo de mudança de designação em todos os agrupamentos de escolas para dar cumprimento, entre outros, ao disposto no artigo 8º, ponto 4, que define que a “denominação do agrupamento de escolas e a denominação da respectiva escola sede devem coincidir
O Conselho Geral do Agrupamento de Escolas de Campelos e a Câmara Municipal de Torres Vedras propuseram a alteração de denominação da Escola Básica Gaspar Campello para Escola Básica de Campelos.
Para finalizar este procedimento, e em cumprimento da legislação, Decreto-Lei nº 299/2007, de 22 de agosto, ponto 2, ‘Disposições Finais’, a nova denominação dos estabelecimentos de educação ou de ensino e dos agrupamentos de escolas foi publicada pela Portaria nº 30/2014, de 5 de fevereiro”
Perante este esclarecimento duas dúvidas se me colocam:
1.       Como é que à data da agregação dos dois Agrupamentos, em Abril de 2013, já se tinha procedido à alteração do nome, quando é a Portaria nº 30/2014, de 5 de fevereiro que publica a alteração do nome?
2.       Como é que a Câmara diz desconhecer o porquê da alteração, quando afinal a propuseram?
Mas deixando o passado para a história, passemos ao presente.
Se o principal motivo da alteração ficou a dever-se ao disposto no artigo 8º, ponto 4, do Decreto-Lei nº 299/2007, que define que a “denominação do agrupamento de escolas e a denominação da respectiva escola sede devem coincidir” (tínhamos então o Agrupamento de Escolas de Campelos com a sua sede na Escola Básica 2-3 Gaspar Campello), este conflito deixou de existir uma vez que hoje a escola está integrada no “Agrupamento de Escolas Padre Vítor Milícias”.
Considerando que o Decreto-Lei nº 299/2007, de 22 de agosto, define as normas aplicáveis à denominação dos estabelecimentos de educação ou de ensino públicos, e que pelo artº 3º são entidades proponentes da denominação a Direcção do estabelecimento de ensino, ou a Câmara Municipal.
Considerando que o nome Gaspar Campello foi um nome consensual escolhido pela direcção da escola, aprovado pela Câmara e Ministério da Educação em finais do século passado e, mantido durante muitos anos como patrono da Escola Básica 2-3 de Campelos, sendo que para a generalidade da população continua a ser esse o nome daquela escola.
Considerando que Gaspar Campello deu origem ao nome do lugar onde se localiza a escola, que na memória colectiva dos habitantes de Campelos é a pessoa marcante que se manteve viva e se transmitiu geracionalmente durante 400 anos. Que se conhecem hoje mais factos históricos em que ele participou, não só de dimensão local ou regional, mas também nacional, nomeadamente a sua participação nas exéquias fúnebres do rei D. Sebastião, e a sua ligação à última tentativa de D. António Prior do Crato para ser rei de Portugal, em 1589.
Considerando que Gaspar Campello pode ser também apontado como referência nos estudos, pois foi bacharel em Leis, pela Universidade de Salamanca.
Julgo que se justifica plenamente a reposição do nome Gaspar Campello à Escola Básica 2-3 de Campelos, ou a todo Centro Escolar que agora também inclui a nova Escola do 1º Ciclo e Jardim de Infância.
Pelo que faço o apelo público à Câmara Municipal, e à Direcção do Agrupamento de Escolas Padre Vítor Milícias, para que a Escola Básica 2-3 de Campelos volte a denominar-se Escola Básica 2-3 Gaspar Campello, esta será também uma forma de respeitar a vontade do saudoso professor Tomé Borges, pois foi ele que mais se empenhou pela atribuição daquele patrono àquela escola

terça-feira, 12 de abril de 2016

Lançamento Livro "Os Expostos da Roda de Lisboa"

                               Foto: jornal Alvorada

Na Biblioteca Municipal da Lourinhã, dia 9 de Abril, na mesa, da esquerda para a direita:
Fernando Mão de Ferro, editora Colibri; Maria de Fátima Reis, Faculdade de Letras de Lisboa; José António Pereira, Centro de Estudos Históricos da Lourinhã; João Duarte Carvalho, Presidente da Câmara Municipal da Lourinhã; José Damas Antunes, autor do livro; José António Santos, Presidente do Grupo Valouro.

Apresentação do Livro:
José Damas Antunes
Os Expostos da Roda de Lisboa. Percursos de Vida na Lourinhã e em Torres Vedras. Séc. XVII-XIX, Lisboa, Edições Colibri, 2015


Local: Auditório Municipal de Torres Vedras e Biblioteca Municipal da Lourinhã
9 de Abril de 2016
Maria de Fátima Reis


          Representa este momento o culminar de um processo que teve o seu início há vários anos, quando José Damas Antunes, interessado em conhecer a história da sua terra, Campelos, ia reunindo informação sobre os naturais e residentes na região de Torres Vedras, que o levou à construção de uma base de dados que permitisse tratar e correlacionar a investigação compulsada. Já no âmbito do mestrado teve o autor a oportunidade de enquadrar parte da pesquisa realizada e encontrar na temática dos expostos a visibilidade que hoje nos reúne aqui – Os Expostos da Roda de Lisboa. Percursos de Vida na Lourinhã e em Torres Vedras. Séc. XVII-XIX. Com gosto orientei a dissertação que está na base deste livro e que mereceu ao seu autor a obtenção do grau de mestre em História Moderna e Contemporânea, no ano de 2015.
          Com o estudo dos expostos iniciei o meu percurso académico que levou ao grau de mestre em História Moderna, no ano de 1989. Revisitar o tema, volvidos vários anos, teve para mim especial significado.
          Homem que vive intensamente o presente, envolvido na política partidária, com obra histórica recentemente publicada nesse domínio, José Damas Antunes olha para o passado para nele ver os elos de continuidade e de transformação das vivências. José Damas Antunes prova-nos como é possível ser comprometido com as causas de hoje e intervir de formas diversas na sociedade, sempre com um sentido de responsabilidade e militância que não se restringe à política quotidiana e à res publica, mas que engloba a prática histórica como exercício para melhor nos conhecermos.
Se este pode ser um dos sentidos de utilidade da História, então posso dizer que esta obra dá a conhecer uma realidade que ainda perdura na memória de alguns, pelos processos de transmissão oral – refiro-me à prática do enjeitamento de crianças. A sensibilidade da análise perpassa a narrativa aos mais diversos níveis e tem a sua máxima expressão na capa da obra com a gravação de nomes de expostos, que, desta forma, são lembrados. Registado fica também um sinal, dos muitos que acompanhavam as crianças abandonadas com o propósito de recuperação futura. Destaque na capa ainda para uma roda, a de Caria, em Belmonte, que lembra o local e forma dos abandonos; recorde-se, modalidade que levou, em 1783, à legalização e promoção de existência deste mecanismo de abandono de crianças. O acto de rememorar, essência da História, é assim realizado nesta obra, pela investigação, pela interpretação e pela imagem.
Digo, rememoração pela investigação para fazer sobressair os processos de pesquisa levados a cabo pelo autor. E que foram concretizados tanto nos arquivos centrais e locais, em demorada e cuidada recolha, e no inerente confronto dos documentos, como no terreno, reunindo traços da memória oral. Digo, rememoração pela interpretação para destacar a habilidade do autor, tanto na aplicação de métodos, de natureza diversa, - demográficos, estatísticos, linguísticos – como na construção da análise que exigiu, igualmente, o domínio de várias especialidades da História: antes de mais, da Demografia Histórica, mas também, da História das Mentalidades, da História da Vida Quotidiana, da História da Assistência, da História da Criança, da Prosopografia Histórica. E digo ainda rememoração pela imagem, pois, cada nome é uma História de Vida e uma Vida com História. José Damas Antunes encontra em cada nome a Pessoa na plenitude das suas vivências – materiais, psicológicas, afectivas –, em que é possível surpreendermos as formas de inserção de cada um nos novos seios familiares, entrevendo os caminhos e as raízes que fundam no espaço de criação, que passará a ser identitário.
Este é mesmo um dos traços de originalidade deste livro, que procura seguir os expostos que, abandonados na Roda de Lisboa, encaminhados para amas de zonas rurais, encontraram nos ares e nas famílias de Torres Vedras, de Campelos e da Lourinhã, uma hipótese de vida que muitos outros não conseguiram alcançar, por perecerem; vítimas das próprias condições do abandono ou do transporte. Mas, os que chegaram a Torres Vedras, a Campelos e à Lourinhã beneficiaram, como disse, dos bons ares das localidades, como era reconhecido pela Misericórdia de Lisboa, e favorecidos ficaram ainda do zelo das amas que os tiveram ao seu cuidado e, que, apesar de todas as contingências de criação, entenda-se de alargamento do seio familiar, remuneradas é certo, para o efeito, deram a estas crianças uma oportunidade – a da própria Vida.
Sensível a esta realidade que percorre as várias épocas históricas e que não é propriamente exclusiva de Portugal, no que respeita à prática do abandono e ao processo de assistência, José Damas Antunes soube com mestria escrever sobre um assunto que tem associado o estigma social de ter sido exposto. Esta é também, em meu entender, outra das novidades que a obra encerra: se, em termos sociais, não seria propriamente fácil para cada uma das Pessoas identificadas pelo Autor, assumir estas suas origens, que entroncam no abandono pelos seus progenitores, é um facto que o enjeitamento tem de ser entendido à luz das mentalidades do tempo; que o mesmo é dizer das estruturas então criadas para responder a esta prática e das formas de recepção e inserção comunitária. Aspecto que o autor deixa claro, reconhecendo que no caso dos expostos criados em Torres Vedras, em Campelos e na Lourinhã se está perante uma integração que esbate o estigma, mas não esquece a origem.
Filhos da Roda, que sugere uma filiação desconhecida, estes expostos tornaram-se filhos da terra que os acolheu. Muitos foram criados aqui e aqui criaram laços, dando também, pelo trabalho e pela geração iniciada, o seu contributo para a dinâmica económica e social desta região. Provando, como bem mostra o autor, que as suas raízes de abandono familiar, desestruturante, não condicionou um percurso de vida estruturada, num novo enquadramento familiar e regional. Quero assim relevar, o que o autor trata de forma exemplar: o papel que as amas tiveram na redefinição dos trajectos destas crianças abandonadas e o papel que a população local teve na integração destes deslocados, que não tinham sequer disso noção, e que, expostos, de filhos da Roda passaram a filhos desta terra, e que, graças às famílias que os criaram, aqui criaram raízes.
Cuidadoso na recolha da informação e rigoroso no tratamento dos dados, o autor empreendeu contactos para localizar descendentes de expostos na região estudada e aplicou técnicas para registar testemunhos. Atento às tendências recentes da História da beneficência, foi para ele fácil situar o caso em observação e dimensioná-lo nas políticas do tempo. Quer isto dizer que nesta obra se encontra também uma pronta síntese do panorama da assistência aos expostos em Portugal. A vantagem de conhecimento interdisciplinar foi determinante na metodologia exercitada. Certo da complexidade inerente à análise da história mais recente, cuidou o autor de cruzar as fronteiras do saber numa abordagem interdisciplinar, convocando a História, a Demografia, a Sociologia. Entusiasta da escrita, esta obra de História tem o rigor da descrição dos factos e o sentimento de quem os interpreta, na desejada objectividade que se requer à construção do conhecimento histórico. O recurso à memória viva exigiu um intenso trabalho da parte do autor, seja na recolha da informação, seja no tratamento desses dados, que exigiram engenho no ajustamento das ferramentas hermenêuticas.
Trabalhar com as impressões, as marcas pessoais deixadas pela vida, implica captar as próprias sensibilidades dos homens no tempo, uma área já definida de psicologia histórica que o autor sabiamente enfrentou. Sendo certo que toda a história confronta o historiador com a verdade do acontecido, é real que, se por um lado, se admite que a distância em relação à ocorrência dos factos pode facilitar a objectividade da análise e até propriamente define o labor historiográfico, por outro lado, se reconhece que a memória recente ou transmitida dos acontecimentos pode viabilizar um conhecimento mais seguro do que se passou. É precisamente perante estas propensões de trabalho historiográfico – o distante e o próximo – que situo o estudo desenvolvido por José Damas Antunes e vejo no livro a história de uma instituição – a Roda – que marcou a vida de muitas pessoas e determinou os seus caminhos futuros.
É chegado o momento de dizer que a múltipla capacidade de realização expressa pelo autor dá-nos, pois, a certeza de que estamos perante um livro de trabalho verdadeiramente interdisciplinar, em que o rigor e o detalhe nos dizem que este não é um livro ao alcance de realização de muitos. Porque impõe conhecimento, porque exige persistência, porque requer muita paciência, porque pede sensibilidade. Qualidades que reconheço no autor. Fica agora Torres Vedras e a Lourinhã, e também Lisboa, com uma obra que mostra uma realidade de muitos desconhecida. Em boa hora as Edições Colibri acolheram a publicação deste livro que terá, como se deseja, nos seus leitores, o prolongamento da mensagem que encerra. Mensagem valorizada com imagens e anexos documentais, em que ganham vida sinais de expostos, deveres das amas, testemunhos de percursos.

Ao Dr. Fernando Mão de Ferro, que dirige as Edições Colibri, editora consagrada no meio Académico, é de agradecer ter querido integrar esta obra na linha editorial de publicações. E aos municípios de Torres Vedras e da Lourinhã é de agradecer o apoio concedido, ficando assim as respectivas Histórias Locais mais ricas com um estudo que a muitos diz respeito. Agradecimento também ao grupo Valouro pelo patrocínio concedido, que tem no seu Presidente, o empresário José António Santos, a expressão maior de percursos de sucesso, cujas origens entroncam nos expostos estudados. Ao autor só posso desejar que prossiga as investigações no âmbito regional com o empenho e saber já plenamente demonstrados.